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Hidrelétricas do país estão com baixos níveis de água e térmicas são a saída

Por em 31/01/2014
Hidrelétricas do país estão com baixos níveis de água e térmicas são a saída

 

 

Hidrelétricas do país estão com baixos níveis de água e térmicas são a saída

Planejamento do governo deveria ser maior, de acordo com especialistas

 

 

Jornal do BrasilAmanda Rocha*

 

 

 

 

O nível de água das hidrelétricas brasileiras está baixo. O fato é preocupante porque 64% da energia elétrica utilizada no país deriva desse recurso energético. Hoje, as reservas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis pela maior parte da energia elétrica gerada no país operam com 42,42% da capacidade total de seus níveis de água. A situação ainda é melhor do que a registrada no mesmo período do ano passado, quando essa marca chegou a 37,46%. No entanto, outras saídas devem ser pensadas para suprir o consumo de energia elétrica que cresce exponencialmente no Brasil.

A situação mais crítica ocorre nos reservatórios do Nordeste, que estão funcionando com 37,82% de suas capacidades. Já no Norte, esse número sobe para 52,17% e no Sul fica em 58,86%.

De acordo com Plínio Milano, diretor operacional da Siclo Consultoria em Energia Ltda, em curto prazo, o necessário é ativar as termelétricas do país. “É preciso uma solução imediata, que significa ser qualquer fonte alternativa de energia. A principal é a térmica. Existe o projeto de Angra 3 que também vai melhorar a situação e qualquer usina em operação é uma solução. Mas nada é instantâneo. As usinas térmicas já estão prontas, então, em curto prazo, elas são a saída”, explica.

Mas as termelétricas têm seus problemas: como produzem energia a partir da queima de combustíveis fósseis, o impacto no ambiente é grande e a produção é cara, pesando na conta de luz do consumidor final. No Brasil, apesar da matriz energética se basear majoritariamente nas reservas de água das hidrelétricas, o Sistema Interligado Nacional (Sin), coordenado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), também engloba as térmicas, que atuam em períodos de condições hidrológicas desfavoráveis.

“Quanto mais você usa uma termelétrica, mais sobe a tarifa da conta de luz na data do reajuste de cada concessionária. Nesse contexto de repasse de custo, foram criadas as bandeiras tarifárias, que avisarão o consumidor sobre a situação atual dos reservatórios através de bandeiras verdes, amarelas e vermelhas”, conta Plínio.

As bandeiras tarifárias são uma iniciativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para avisar o consumidor final com antecedência sobre o aumento ou não do custo da energia por meio de bandeiras que viriam junto à tarifa. Portanto, quando a conta viesse acompanhada da bandeira amarela, por exemplo, haveria um acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumido pelo uso de térmicas.

Já na banheira verde, não há mudanças na conta e na bandeira vermelha o aumento é de R$ 3,00 para cada kWh. O projeto entraria em vigor em janeiro de 2014, mas foi adiado para janeiro de 2015 porque, segundo a Aneel, as regras de faturamento e detalhamento do uso da energia ainda estão em discussão.

O JB entrou em contato com o ONS, mas o órgão respondeu que só se pronunciará sobre a situação do nível de água nas hidrelétricas do país na próxima semana.

Já para o Ministério de Minas e Energia, “não existe um problema a ser superado” com o baixo nível de água das hidrelétricas. No entanto, de acordo com Rafael Herzberg, sócio-consultor da Interact Ltda Consultoria em Energia, existe sim um problema que já se acumula há anos na política adotada para o sistema energético brasileiro.

“Em um passado não muito distante, o país possuía reservatórios em ordem de grandeza de um ano. Sucessivas condições adotadas fizeram com que a nossa capacidade de armazenamento se reduzisse pela metade. Agora, estamos muito mais vulneráveis. Qualquer situação se torna um grande problema. Se o regime de chuvas é menor, isso é um problema. Se o consumo de energia aumenta, é outro problema. Se a temperatura sobre, problema”, diz.

Além da falta de incentivo nas usinas hidrelétricas do país, Rafael aponta o aumento do consumo brasileiro como outro motivo que sobrecarrega a demanda por energia elétrica. A abertura de crédito, incentivada pelo governo, possibilitou que mais pessoas pudessem comprar itens da chamada “linha branca”, que classificam eletrodomésticos de maior porte como geladeira e fogão. Para Plínio, a questão do consumo também é um problema, já que a energia utilizada pelos brasileiros cresce mais a cada ano. E em 2014, o país recebe a Copa do Mundo, o que intensificará ainda mais o consumo.

“Os números estão sendo fechados, mas de 2012 para 2013, o crescimento [do consumo] foi de 3,8% no Brasil. Esperamos algo em torno de 5% de crescimento para 2014 por conta do mundial”, conta. O Ministério de Minas e Energia confirma que eventos como a Copa do Mundo influenciam na demanda de energia elétrica do país e afirma que estudos específicos estão sendo realizados pelo ONS para adotar medidas especiais de operação.

Em longo prazo, para mudar a total dependência do sistema energético nas chuvas, é preciso investir em fontes alternativas de energia, que demandam tempo de estudo e investimentos. “O governo já tem investido bastante em outros modelos, principal a energia eólica. Sem dúvidas novas fontes são necessárias, mas o crescimento delas não está acompanhando o crescimento da demanda”, explica Plínio, ressaltando que programas de redução de consumo também são efetivos para minimizar o problema.

Já Rafael ressalta que planejamento é a palavra de ordem para não se sofrer mais com a queda dos níveis de água dos reservatórios. Ele conta que a predileção do governo é por térmicas por ficarem próximas de cargas consumidoras e não precisarem de tantas linhas de transmissão. No entanto, ao importar uma turbina que não se fabrica no Brasil e que já vem para o país totalmente montada encarece demais o processo. E é aí que está o problema: caso houvesse maior planejamento, esse cenário poderia se modificar.

“Nossos concorrentes latino-americanos como o Chile e a Colômbia estão se destacando em planejamento. São países que fazem térmicas? Sim, só que a preços muito mais baratos. É uma visão estratégica mais profissional, resultando em um desenvolvimento humano muito melhor”, analisa.

A principal causa para o baixo nível dos reservatórios são as chuvas abaixo do esperado. Segundo Plínio, o regime de chuvas no Brasil, em sua maioria, é previsível: o período que vai de dezembro até abril é o que mais fornece água para os reservatórios. Portanto, ainda estamos no começo dessa temporada e, embora o cenário não seja bom, pode melhorar. “Tudo depende do que acontecer nos próximos meses. Se as chuvas melhorarem, não teremos maiores problemas. Se continuar chovendo abaixo da média, podemos sim ter problemas. Diria que a situação, agora, é preocupante”, aponta.

Segundo relatório do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que aponta prognósticos climáticos para o primeiro trimestre de 2014, a previsão é de chova dentro do esperado na região Nordeste, com chances altas do nível ser abaixo das expectativas. Já para a região Norte, a probabilidade é de que as chuvas excedam o esperado. Nas outras regiões, as chances são iguais para todos os níveis de chuva.

Saiba como economizar para gastar menos na conta de luz  

Grande parte do consumo de energia elétrica do Brasil se dá por conta de indústrias. Por esse motivo, Rafael Herzberg sempre aconselha os empresários a fazerem uma prospecção com antecedência, consultando o mercado de energia. Assim, é possível perceber que os ciclos de alta e baixa dos preços são constantes.

“Existem dois tipos de clientes: os que fazem planejamento e os que não. Quem não faz sempre acaba na mesma situação, contratando energia elétrica por um ano e no final a empresa corre para contratar qualquer outro preço, pagando o que aparecer para não ficar sem energia. Acaba saindo caro”, aponta.

Já para consumidores domésticos, a dica é maneirar no uso de eletrodomésticos e saber como utilizá-los. Uma máquina de lavar roupa que suporte 10 quilos, por exemplo, deve funcionar sempre com a sua capacidade máxima. Nada de colocar poucas peças de roupa para lavar ao longo do dia. “Tem muita gente que não se dá conta e liga a máquina quatro vezes diariamente”, conta Plínio.

As lâmpadas incandescentes, embora já estejam menos populares, ainda são usadas. Segundo o especialista, elas devem ser trocadas por lâmpadas fluorescentes, que economizam energia. Ele também aconselha que a borracha de vedação da geladeira sempre seja checada para evitar que o eletrodoméstico funcione com ela em mau estado, ressacada ou com o ímã perdendo a força, já que qualquer falha permite entrada de ar quente, fazendo o compressor da geladeira ter que funcionar por mais tempo.

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