Não são imagens ilustrativas: São pepitas de ouro de alta qualidade recuperadas de lixo eletrônico, minério e lixívia de laboratório.
[Imagem: Flinders University]
De minério ou de lixo eletrônico
Pesquisadores australianos desenvolveram uma tecnologia que extrai ouro puro tanto a partir de minério natural quanto de um "minério artificial" construído pela moagem de sucatas de aparelhos eletrônicos - o ouro é largamente usado em contatos de processadores e memórias de computador, por exemplo.
A nova técnica de extração de ouro produz menos resíduos tóxicos do que a técnica tradicional da mineração e ainda é a primeira a mostrar na prática, com "pepitas" reais de grandes tamanhos, que é viável extrair ouro de alta pureza pela reciclagem de componentes em placas de circuito impresso de computadores descartados.
A equipe começou fazendo um exaustivo levantamento de todas as tecnologias similares já desenvolvidas, analisando então seus mecanismos de ação, aplicabilidade e limitações de cada técnica. Isso permitiu projetar uma nova técnica que superasse as deficiências das anteriores.
"O estudo apresentou muitas inovações, incluindo um novo reagente de lixiviação reciclável derivado de um composto usado para desinfetar água," contou o professor Justin Chalker, da Universidade Flinders. "A equipe também desenvolveu uma maneira inteiramente nova de produzir o polímero sorvente, que é o material que se liga ao ouro após a extração na água, usando a luz para iniciar a reação principal."
Desumidificadores
O método integrado foi demonstrado fazendo a extração de ouro de várias fontes, incluindo resíduos eletrônicos, resíduos de metais mistos e concentrados de minério. O rendimento foi tão bom que a equipe calcula que a técnica permitirá até mesmo recuperar ouro nas quantidades traço encontrados nos fluxos descartados dos laboratórios científicos.
A técnica é "limpa", dispensando os perigosos cianeto e mercúrio.
[Imagem: Maximilian Mann et al. - 10.1038/s41893-025-01586-w]
Técnica limpa para extração de ouro
O processo utiliza um reagente benigno e de baixo custo para extrair o ouro, o ácido tricloroisocianúrico, que é amplamente utilizado no saneamento e desinfecção da água. Quando ativado por água salgada, o reagente pode dissolver o ouro.
Desumidificadores
Em seguida, o ouro pode ser seletivamente ligado a um polímero rico em enxofre - esse polímero foi desenvolvido pela própria equipe, apresentando uma seletividade que permite a recuperação do ouro mesmo em misturas altamente complexas.
Finalmente o ouro pode ser recuperado, fazendo com que o polímero se "desfaça" e se converta novamente em monômero. Isso permite que o ouro seja isolado e o polímero seja reciclado e reutilizado.
Para demonstrar a técnica em condições práticas, a equipe fez parcerias com especialistas nos EUA e no Peru, validando o método de extração de ouro em minérios do mundo real, em um esforço para dar suporte a minas de pequena escala que, de outra forma, dependem de mercúrio para amalgamar o ouro.
Mas a equipe se debruçou especialmente sobre pilhas e pilhas de sucatas eletrônicas. "Nós mergulhamos em um monte de lixo eletrônico e saímos com um bloco de ouro! Espero que esta pesquisa inspire soluções impactantes para desafios globais urgentes," disse o professor Harshal Patel.
"Nós mergulhamos em um monte de lixo eletrônico e saímos com um bloco de ouro!"
[Imagem: Maximilian Mann et al. - 10.1038/s41893-025-01586-w]
Quais problemas esta técnica resolve?
O lixo eletrônico (e-lixo) é um dos fluxos de resíduos sólidos que mais cresce no mundo. Em 2022, estima-se que 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico foram produzidas globalmente. Apenas 22,3% foram formalmente coletados e reciclados.
O lixo eletrônico é considerado um resíduo perigoso, contendo materiais tóxicos e podendo produzir produtos químicos tóxicos quando reciclado de forma inadequada. Vários deles estão incluídos na lista dos 10 produtos químicos de interesse para a saúde pública, incluindo dioxinas, chumbo e mercúrio. A reciclagem inadequada de lixo eletrônico representa uma ameaça à saúde e à segurança públicas.
Enquanto as grandes mineradoras usam o perigosíssimo cianeto, mineradores de pequeno porte e garimpeiros utilizam o mercúrio, que se liga às partículas de ouro nos minérios, para criar o que é conhecido como amálgama. Esse amálgama é então aquecido para evaporar o mercúrio, deixando para trás o ouro, liberando os vapores tóxicos. Estudos indicam que até 33% dos mineradores artesanais sofrem de intoxicação moderada por vapor de mercúrio metálico.
Entre 10 milhões e 20 milhões de mineradores e garimpeiros trabalham em mais de 70 países na mineração de ouro artesanal e em pequena escala. Essas operações, muitas vezes não regulamentadas, geram 37% da poluição global por mercúrio (838 toneladas por ano) - mais do que qualquer outro setor.
A maioria dos locais informais de extração de ouro carece de recursos, financiamentos e treinamento necessários para a transição para uma mineração sem mercúrio. Apesar de representarem 20% da oferta global de ouro e gerarem aproximadamente US$ 30 bilhões anualmente, os mineradores artesanais normalmente vendem ouro por cerca de 70% do seu valor de mercado global, perdendo largas porções das suas receitas potenciais. Além disso, com muitas minas de ouro localizadas em áreas rurais e remotas, os mineradores que buscam empréstimos frequentemente se veem limitados a taxas de juros predatórias de fontes ilegais, o que aumenta a demanda por mercúrio.